WOODY GUTHRIE E SUA MÁQUINA DE MATAR FASCISTAS, QUE NOS TEMPOS ATUAIS, FAZ MUITA FALTA

Woody Guthrie tinha um método infalível de matar fascistas. E bem antes do cantador trovador Bob Dylan fazer sua história no cancioneiro norte-americano, mas bem antes mesmo, um outro sujeito já traçava sua história dentro da chamada música de protesto.
Woodrow Wilson "Woody" Guthrie nasceu em Okemah, no estado de Nova Iorque, em 1912. E depois de passar a infância em sua cidade mudou-se para Nova Iorque como cantor de folk music. E seus temas abrangiam desde as músicas tradicionais, canções infantis mas também canções de protesto que contavam a vida de trabalhadores migrandes da época da grande depressão, dos desempregados e de todos aqueles que viviam a margem da sociedade.
Denominado de "o trovador Dust Bowl" foi associado a grupos comunistas, embora não fosse membro, e odiado por patrões e entidades governamentais por promover o sindicalismo como forma de proteção da classe trabalhadora.
E foi no ano de 1949, durante um tempo em Nova Iorque que gravou aquele que seria o seu álbum de maior impacto: "Dust Bowl Ballads", pela RCA Victor e que se tornou seu primeiro álbum a obter um sucesso comercial, coisa inédita para um simples cantor folk.
Aqui, todas as músicas são autobiograficas, onde conta também a história de trabalhadores do campo, suas dificuldades econômicas na Califórnia, a fome que permeava as famílias vindas de toda parte do país e as precárias condições de trabalho nas indústrias da região.
No álbum ele usou apenas guitarra e vocais e um estilo cru, quase selvagem de cantar. Como diria o escritor John Steinbeck "sua voz, sua guitarra pendurada como um pneu de ferro em uma borda enferrujada, não há nada de doce com Woody, e não há nada doce sobre as músicas que ele canta. Mas há algo mais importante para aqueles que vão ouvir. Existe a vontade das pessoas de suportar e lutar contra a opressão. Creio que chamamos isso de espírito americano".
O disco fez a cabeça de caras como Pete Seeger, Bob Dylan, Bruce Springsteen, Phil Ochs e Joe Strumer do The Class, claro que isto bem mais tarde. O que muita gente não sabe é que Guthrie foi escritor, poeta e que seus textos são desconhecidos por muita gente. Escreveu inclusive sua própria auto-biografia, "Bound for Glory", publicada no ano de 1943.
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Foi durante a época em que serviu à marinha como lavador de pratos, que tentava levantar a moral da tripulação com suas músicas durante as longas viagens. Porém a partir de 45, quando o pessoal descobriu sua associação com o comunismo foi mandado para o exército. Já a partir do final da década de 40, sua saúde começou a debilitar-se. Seu comportamento errático, o alcoolismo e a esquizofrenia o levaram a ter o diagnóstico da doença de Huntington, que era genética, herdada de sua mãe.
No entanto, veio a falecer em 1967, devido as complicações da doença. E já nessa época seu trabalho já havia sido descoberto por uma legião de novos cantores, entre eles um jovem de 19 anos, Bob Dylan, que o visitava no hospital antes de seu falecimento e que diria mais tarde: "as canções por elas mesmo foram realmente além da categoria. Elas tinham a varredura infinida da humanidade nelas'

Discografia:
1940 - Dust Bowl Balladas;
1945 - Woody Guthrie;
1946 - Ballads From The Dust Bowl;
1950 - Songs fo Gronw On;
1959 - Talking Dust Bowl;
1956 - Bound For Glory;
1956 - Songs to Grown on For Mother and Child;
1960 - Ballads of Sacco e Vanzetti;
1962 - Woody Guthrie sings folk Songs;
1963 - Cowboy Songs;
1964 - Hard Travelin;
1964 - Library Of Congress Recording;
1965 - Bed on the Flooer;
1967 - This Land is Your Land.
Sua vida está retratada num filme feito em 1967 pelo diretor Hal Ashby denominado Bound For Glory, com o ator David Carradine. Um dos melhores filmes do errático diretor.
'PÉROLA NEGRA' DE LUIZ MELODIA TORNOU O SAMBA MODERNO, POP E COM STATUS

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OS 50 ANOS DO DISCO MAIS REVOLUCIONÁRIO DA HISTÓRIA DO ROCK, ''SGT. PEPPER'S LONELY HEARTH CLUB BAND'' QUE SAIU DA CABEÇA DE SIR PAUL McCARTNEY



'ALUCINAÇÃO' DE BELCHIOR COMPLETA 40 ANOS E CONTINUA COMO SEMPRE FOI: DIALÉTICO, VISCERAL E PROFÉTICO
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- Foi lançado em 1976 pela Polygram (atual Universal Music);
- Produção: Mazzola;
- Gravado em 16 canais;
- Arte: Aldo Luiz;
- Músicos: Belchior (violão e voz), José Roberto Bertrami (piano, orgão, sintetizador), Paulo César Barros (baixo), Antenor Gandra (guitarra, violão e viola caipira), Pedrinho (bateria), Ariovaldo Contensini (percussão) e mais Lui, Orlando Silveira e o coro de Evinha, Maritza e Regina.
- Todas as músicas são de sua autoria.
- Músicas: lado 1: Apenas um Rapaz Latino Americano; Velha Roupa Colorida; Como Nossos Pais; Sujeito de Sorte; Como o Diabo Gosta.
- Lado 2: Alucinação, Não Leve Flores, A Palo Seco, Fotografia 3 x 4; Antes do Fim.
SANTANA I, UMA NOVA SONORIDADE GANHA O MUNDO ROQUEIRO


- Produção: Brent Dangerfiel e Santana;
- Arranjos: Alberto Gianquinto;
- Engenheiro de som: Bob "Deputy Dog" Breaut e Eric Prestidge;
- Gravação e Mixagem: Pacific Recording, San Mateo, Calivornia;
- Direção: Stan Marcum;
- Arte: Lee Conkin. Fotos Jim Marshall
- Ainda segundo o livro "O Tom Universal", Carlos Santana disse que o petardo Soul Sacrifice foi de uma idéia de Stan Marcus, que um dia chegou e começou a mostrar para os rapazes todas as partes da música. "Sempre que eu posso eu relato para as pessoas, pois essa foi uma das contribuições do nosso parceiro inicial".
"Alucinação" de Belchior faz 40 anos e continua como sempre foi: dialético, visceral, e profético.

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- Foi lançado em 1976 pela Polygram (atual Universal Music);
- Produção: Mazzola;
- Gravado em 16 canais;
- Arte: Aldo Luiz;
- Músicos: Belchior (violão e voz), José Roberto Bertrami (piano, orgão, sintetizador), Paulo César Barros (baixo), Antenor Gandra (guitarra, violão e viola caipira), Pedrinho (bateria), Ariovaldo Contensini (percussão) e mais Lui, Orlando Silveira e o coro de Evinha, Maritza e Regina.
- Todas as músicas são de sua autoria.
- Músicas: lado 1: Apenas um Rapaz Latino Americano; Velha Roupa Colorida; Como Nossos Pais; Sujeito de Sorte; Como o Diabo Gosta.
- Lado 2: Alucinação, Não Leve Flores, A Palo Seco, Fotografia 3 x 4; Antes do Fim.
4 cabeças pensantes, muita erva, um sítio em Jacarepaguá e temos "Acabou Chorare"



- Jorginho Gomes (bateria)
- Moraes Moreira (voz, violão, arranjos)
- Baby Consuelo (vocal, percussão)
- Dadi Carvalho (baixo)
- Paulinho Boca de Cantor (voz, percussão)
- Pepeu Gomes (guitarra, violão, arranjos).
"GETZ/GILBERTO'', O DISCO QUE COLOCOU A MÚSICA BRASILEIRA NO CENTRO DO MUNDO




1) The Girl From Ipanema (Tom e Vinícius/versão de Norman Gimbel);
2) Doralice (Dorival Caymmi/Antonio Almeida);
3) Pra Machucar Meu Coração (Ary Barroso);
4) Desafinado (Tom/Newton Mendonça);
Lado 2
1) Corcovado (Tom/versão Gene Lees);
2) Só Danço Samba (Tom e Vinícius);
3) O Grande Amor (Tom/Vinícius);
4) Vivo Sonhando (Tom Jobim).
Músicos:
- João Gilberto - violão e voz;
- Tom Jobim - piano;
- Stan Getz - sax tenor;
- Tião Neto - baixo;
- Milton Banana - bateria;
- Astrud Gilberto - voz em "The Girl From Ipanema" e "Corcovado".
- Engenheiro de Som - Val Valentin;
- Engenheiro de Gravação - Phil Ramone;
- Produção: Creed Taylor;
- Capa - Olga Albizu.
UM CARA GRANDÃO COM UMA GUITARRA NA MÃO É O INÍCIO DE TUDO....



- A Gravadora de Bill Haley e seus cometas era a Decca Records;
- O produtor do single foi Milt Gables, que era também produtor de Billie Holiday;
- Foi feita em dois takes. Um que realçou a voz e o outro os instrumentos e que foram juntados;
- Bill a gravou posteriormente em mais de 30 versões diferentes;
- No Brasil o presidente eleito Jânio Quadros tentou proibir a exibição de Sementes da Violência por causa da música. Um juiz classificou a película imprópria para menores de 18 anos por causa de seu "rítmo excitante, frenético, alucinante e mesmo provocante, de estranha sensação de trejeitos exageradamente imorais". Uauu, que peça...;
- A tradução é a seguinte:
E DO CAOS SE FEZ O SOM, "EXILE ON MAN ST." O MELHOR DOS PEDRAS ROLANTES



- O Nome "Exile On Main Stree" foi dado por Keith que se considerava exilado por ter de fugir dos altos impostos que devia na Inglaterra;
- Participaram os seguintes músicos além da banda: Nicky Hopkins, Jim Price, Ian Stewart, Billy Preston;
- Muito tempo depois Keith Richards e Mick Jagger o elegeram como seu preferido:
- Músicas: "Rock Off, Rip This Joint, Shake Your Hips, Cassino Boogie, Tumbling Dice, Sweet Virginia, Torn And Frayed, Sweet Black Angel, Loving Cup, Happy, Turd On The Run, Ventilator Blues, I Just Wanna See His Face, Let It Loose, All Down The Line, Stop Breakin Down, Shine a Light.
- Recentemente foi lançado um DVD sobre as gravações deste ãobum.
CALABAR, A PEÇA MUSICAL DE CHICO BUARQUE E RUY GUERRA QUE DESAFIOU A CENSURA


- A peça foi escrita entre 1972 e 1973, então no auge da Ditadura;
- Diretor: Fernando Peixoto;
- Produção: Fernanda Montenegro e Fernando Torres;
- Deveria estrear no teatro João Caetano do rio de Janeiro;
- Direção musical: Dori Caymmi;
- Orquestração: Edu Lobo;
- Elenco: Tete Medina, Betty Faria, Hélio Ari, antônio Ganzarolla, Lutero Luis.
- O disco saiu pelo selo Phonogram com todas as músicas cantadas por Chico.
MORRICONE CONTINUA IMBATÍVEL, AOS 87 ANOS

Ennio Morricone está para as trilhas de cinema assim como as 9 sinfonias de Beethoven estão para as Orquestras Sinfônicas. São indissociáveis. Um não vive sem o outro e todos se completam.
E isto me veio em mente ao saber que o velho compositor e arranjador italiano, então com 87 anos, e ainda trabalhando, é o responsável pela trilha de “The Hateful Eight” (Os 8 Odiados), novo filme de Tarantino, já que nos 2 filmes anteriores, "Django" e "Bastardos Inglorios", o diretor havia, digamos assim, "pego emprestado" alguns temas seus. Aliás, coisa de Tarantino.
O que muda aqui é que Ennio está no seu chão, ou pelo menos naquele pelo qual é mais conhecido: o Western. Não tem quem algum dia não tenha ouvido a trilha de “O Bom, O Mau e o Feio”, “Por Um Punhado de Dólares”, “Por Uns Dólares a Mais”, “Meu Nome é Ninguém”, “Quando Explode a Vingança”, “Era Uma vez no Oeste”, “Era Uma Vez na América”, todos de Sergio Leone (que aliás está no tópico Grandes Diretores) e que não tenha ficado impactado pelas suas digressões sonoras. Porque a bem da verdade, o velho maestro não faz só trilhas mas também aquilo que se conhece como música incidental, que são os ruídos e sons que ressaltam em uma cena um detalhe qualquer por mais simples que pareça. É quase que um efeito sonoro que é incorporado na montagem final. Foi ele quem primeiro fez isso, o que o tornou um dos mais procurados por cineastas de todas as nacionalidades.
Sua produção é espantosa. Está perto de chegar a um número quase inacreditável: 600 filmes! Sim é isso mesmo 600. No gênero western deve estar batendo na casa dos 80. Dramas, comédias, épicos, ação, suspense, romance, guerra, ficção, programas de TV, tudo cabe dentro do movimento de sua batuta.
Ennio Morricone nasceu em novembro de 1928 na cidade de Roma. Filho de pai trompetista desde cedo mostrou dom para a música, sendo que aos 6 anos fez sua primeira composição. Sua infância foi pobre e difícil, marcada pelo que de mais ruim a 2ª Guerra mostrou aos cidadãos italianos. Mesmo assim estudou em conservatórios e com professores particulares até obter o domínio de seu instrumento preferido, o trompete. Também estudou piano, aquele que prefere para compor. Sua grande paixão sempre foi a música clássica, mas isto não impediu que estudasse e tocasse com maestria o jazz, a canção popular italiana, que ele gostava muito e outras formas musicais.
Embora já tivesse feito algumas trilhas foi o diretor Sérgio Leone quem enxergou a potencialidade de Morricone para sonorizar suas cenas. E não apenas isso: o que seriam de muitas delas sem a música do maestro. Sua percepção para exaltar o lado psicológico de personagens ou situações de conflito ou mesmo dramatizar passagens essenciais é no mínimo genial. “A música tem que fazer aflorar os significados subjacentes, aqueles que não se vê”, dizia o mestre. Sua música projeta as cenas de uma maneira que nenhum outro compositor conseguiu em toda a história do cinema. Ela consegue botar para fora aquilo que o personagem traz no seu aspecto mais íntimo, extirpando todos os sentimentos que nem mesmo o diretor consegue visualizar. Que o digam os filmes “Os Intocáveis”, “A Missão”, “Cinema Paradiso” e tantos outros. Sua partitura teve até a ousadia de transformar produções ruins como “Missão Marte”, em um filme assistível. Foi ele quem primeiro botou sonoridades exóticas em suas trilhas tais como sinos, sons de galinhas, guitarra elétrica, todas misturadas com vozes femininas (que ele gosta muito) ou mesmo corais, além de violinos, trompetes, pianos, ou seja, um caldeirão de sons e que, o mais importante, funcionava.
Não tem diretor importante com quem não tenha trabalhado. Pasolini, Giuleo Pontecorvo, Pedro Almodóvar, Edward Dmytrik, Sam Jave, Brian De Palma, Barry Levinson, Alberto Lattuada, Bernardo Bertolucci, Roman Polanski, os irmãos Taviani, Giuseppe Tornatore, John Carpenter (O Enigma de Outro Mundo), Terrence Malick (Cinzas do Paraíso) e muitos, muitos outros. No auge da fama foi convidado insistentemente por Hollywood para se mudar para a América, coisa que nunca fez. Jamais se afastou de Roma, sua cidade Natal, por mais vantajosa que fosse a oferta.
Mesmo tendo sido indicado por 5 vezes ao Oscar nunca o ganhou. Somente em 1987, pelo conjunto de sua obra, ou seja, é mais ou menos uma remissão da academia para com aqueles injustiçados. Não que Ennio precisasse, nunca fez questão e nunca reclamou. Passou ao largo de tudo isso. Sua música soou mais alto que qualquer prêmio, merecido ou não. Mas não premiar aquele que foi o maior de todos é mais ou menos como não reconhecer um Fellini ou um Godard como cineastas importantes para toda uma geração de cinéfilos espalhados pelos quatro cantos do mundo. Aliás, foi nesses cantos e tantos outros que Morricone estendeu suas sonoridades trabalhando com diretores de todos os continentes e de todas as matizes ideológicas e políticas. Nunca quis explicar muito seus métodos de trabalho, sempre afirmou que sua música é quem fala por ele.
Foi trabalhando com Dario Argento em “O Pássaro de Plumas de Cristal”, que experimentou aquilo que chamou de “música estrutural e gestual, já que era uma película muito difícil, complexa, e a música se tornou quase experimental” disse ele, acrescentando que fez um esboço da partitura e os músicos faziam as entradas conforme sua indicação e vendo o filme rodar.
Sua partitura para “Os Intocáveis” é no mínimo perfeita. É toda pontuada de forma a ser um elemento essencial do filme. Tente ver alguma cena sem música. É impossível, não rola.
“Il Maestro”, como é conhecido por todos certamente vai dar suas caras ainda em outras produções e por enquanto é esperar pela estréia de “Os 8 Odiados”, de Tarantino, que deve dar suas caras por aqui ainda no início deste ano. Sua introdução para este trabalho é no mínimo instigante e mostra que o velho não perdeu o tom. Sua pontuação lenta ao som de violinos e ressaltada inicialmente por oboés e xilofones e mais tarde por instrumentos graves como fagotes, cellos e contrabaixos e grande orquestra é genial, realçada por imagens quase angelicais de uma diligência que se desloca na neve como que antecedendo ao inferno que irá se seguir. E tudo isto, segundo Tarantino, apenas lendo o roteiro. "Il Maestro" está vivo, muito vivo, e a serviço do cinema, graças a Deus.
Tópicos:
- A banda Metallica costuma começar seus shows com a música “The Ecstasy Of Gold” do filme “3 Homens em Conflito”;
- A Banda Muse o citou como influência;
- Compôs o tema da Copa do Mundo de 1978 na Argentina;
- Tarantino frequentemente “pega emprestado” alguns de seus temas em seus filmes;
- Sua primeira trilha foi em 1961 no filme “Il Federale” de Luciano Salce.
- Ganhou cerca de 40 prêmios entre eles o “Leão de Ouro”, em Veneza, Golden Globe Award, Prêmio Vitório de Sicca, Globo de Oro Stampa, na Itália, Golden Soundtrack Award, de Los Angeles.
- No Primeiro Encontro Internacional de Música de Cinema, em 2007, o maestro esteve no Brasil onde regeu a Orquestra Sinfônica Petrobrás no Teatro Municipal no Rio de Janeiro.
- Gravou um disco com Chico Buarque de Hollanda chamado “Per Um Pugno di Samba”, que não obteve muito sucesso na itália, segundo Ennio porque o tinha tinha idéias “avançadas demais” para a época. (Você pode ouvi-lo no You Tube).
- Sergio Leone e Ennio Morricone foram colegas quando crianças ao estudarem no mesmo colégio.
"KIND OF BLUE" E A GENIALIDADE DE MILES DAVIS
Kind Of Blue é um dos discos mais cerebrais que surgiu na história do jazz contemporâneo, com uma sonoridade que foi sempre imitada mas nunca igualada por nenhum outro músico além de seu criador, Miles Davis.
O álbum tem uma continuidade impressionante, funciona como um amálgama de temas, motivos, cadências, tonalidades e modulações que convergem para um ponto só: uma unidade de idéias.
Gravado em 1959 no 30th Street Studio da Columbia Records em Nova York pela nata dos músicos da época tornou-se o mais mítico disco dentro da história do jazz, uma obra-prima inigualável de melodias frenéticas, poucos acordes que proporcionavam grandes possibilidades de improvisações e que vendeu um absurdo, como nenhum outro de jazz havia conseguido até aqui, o que fez com que a Columbia apostasse nesse gênero, que não era seu forte.
O que chama a atenção é a maneira como o disco se desenvolveu. Diz Bill Evans, contratado para substituir o pianista Red Garland, que tinha outro compromisso: “Miles chegou com novas músicas que ele havia escrito horas antes e nos apresentou apenas um esqueleto delas, indicando o que queria em cada uma. O grupo começou a tocar espontaneamente e gravamos um take só, ou seja, foram gravadas ao vivo”. E é isso que torna King Of Blue único.

Outra coisa que incomodava o jovem Bill era o de ser o único branco no grupo. Isso o deixava intimidado diante dos outros músicos, então consagrados à época: John Coltrane (sax tenor), Cannonbal Adderley (sax alto), Paul Chambers (baixo), Wynton Kelly (piano) e Jimmy Cobb (bateria). Era um timaço, pra ninguém botar defeito, e que aliás ficaram muito pouco tempo tocando com Miles, partindo depois para formarem seus próprios grupos.
Em realidade era uma época de grande criatividade do trumpetista e que vinha acumulando alguns êxitos com seus álbuns anteriores “Round About Midnight”, “Miles Ahead”, “Milestones” além do elogiável “Porgy And Bess” que teve uma excelente acolhida de público e crítica. O músico começava a ser tratado com uma deferência pouco usual para um negro no final da década de 50. Seu nome era sinônimo de sucesso e requinte em todas as rodas musicais e também fora dela, junto de celebridades do cinema e de outras áreas.
Em verdade o disco causou uma revolução a época que surgiu, deixando de lado o bebop de Charlie Parker e experimentando novas formas de tocar, improvisando sobre as tonalidades, de forma mais livre e aberta, e que mais tarde receberia o nome de “modal”.
Todas as músicas são em cima do gênero blues, com algumas pitadas de gospel, com Miles deixando o pessoal improvisando livremente, sem partituras, cada um dando sua contribuição daquilo que sentia ou seja, extraindo o máximo dos músicos fabulosos que tinha em mãos. Claro que isso elevou o nível a um plano jamais conseguido por outra gravação, criando um novo caminho para o jazz até ali amarrado a fórmulas complexas, as vezes até herméticas e encerradas em si mesmo num mundinho pouco avesso a novidades.
À época de seu lançamento a resenha do New York Times colocava: “O som do céu”. Vendeu de início mais de um milhão de discos e desde então ficou no top do hit parede do jazz de onde nunca mais saiu.
Foi o inglês Richard Williams que fez a frase definitiva: “foi o álbum que reinventou a música moderna”.

Tópicos:
Lado A:
1) So What
2) Freddie Freeloader
3) Blue in Green ( parceria de Miles com Bill Evans)
Lado B:
1) All Blue
2) Flamenco Sketches (parceria de Miles com Bill Evans)
- Ashley Kahn escreveu o livro “Kind ofBue – A História da obra prima de Miles Davis”, de 2007, editora Barracuda.
- Richard Willians escreveu “Kind of Blue – Miles Davis e o álbum que reinventou a música moderna”;
- Foi gravado em apenas duas sessões numa fita de três canais no estúdio da Columbia em Manhattan;
- Não houveram ensaios anteriores, tudo foi feito ao vivo e com os músicos conhecendo os temas pouco tempo antes;
- Em 1994 o disco foi ranqueado em primeiro lugar no “Al Time Top 1000 Álbums”, de Colin Arkin, descrito como “o maior álbum de jazz do mundo”;
- Recebeu menção de melhor disco da “Rolling Stone”, “Rate Your Music” e “Tower”, revistas especializadas em música;
- Em 2002 a obra foi uma das 50 escolhidas pela Biblioteca do Congresso Americano para figurar no registro nacional de gravações;
DAS TERRAS DE BENVIRÁ. O MELANCÓLICO E PUNGENTE ADEUS DE VANDRE

Gravado na França em 1973, durante seu exílio, Das Terras de Benvirá foi o derradeiro registro fonográfico do cantor paraibano nascido em João Pessoa em 1935. E que registro. Talvez não exista na discografia brasileira um disco com tamanha tristeza, que salta da alma para os sulcos do vinil como este. Não é um canto, é um choro, não são canções, são lamentos daquele que pagou um preço altíssimo por não abrir mão de suas convicções, de seus sonhos e por se manter coerente politicamente em meio a um turbilhão que varreu o país e degredou uma leva de artistas e pensadores pra muitos cantos do mundo ou quem sabe, como diz a canção pras Terras do Benvirá.
Geraldo Pedrosa de Araújo Dias foi um dos mais prolificos artistas que este país já teve, um idealista como poucos e que cantou aquilo que viu e sentiu em suas andanças por esta "terras brasilis". Sua história se confunde com a história da ditadura militar, seu engajamento a uma causa (perdida) foi digna. Nunca se curvou, nunca se queixou, bateu de frente contra aqueles que se apossaram do poder e que levou ele e uma geração de cantores como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Chico Buarque para o degredo. A diferença é que os outros voltaram e retomaram suas carreiras, Vandré não. Sua carreira terminou em 1968, quando os militares implantaram o Ai5. Desde então nunca mais pisou num palco brasileiro.
Virou ícone de uma geração que sofreu como ele o ódio de uma casta dominadora que teve não o violão, mas a arma e o coturno como ideologia. Não abandonou suas convicções ideológicas, seu ideal libertário, suas canções instigantes que eram sonhos de um país melhor e solidário de luta de classes contra o domínio opressivo.

Foi no III Festival Internacional da Canção, promovido pela TV Globo, em 68, que o caldo entornou. Vandré defendia aquela que seria o hino da resistência do movimento estudantil contra a repressão dos quarteis "Pra Não Dizer Que Não Falei das Flores" e isto deixou em polvorosa todo o comando do 1° Exército, perplexo com tamanha afronta em versos que entre outras coisas dizia: "Nos quartéis lhes ensinam antigas lições, de morrer pela pátria e viver sem razões". A música não foi a vencedora, não deixaram, como disse anos mais tarde Walter Clark, então todo poderoso da Globo: "recebi um telefonema do comando do 1° exército onde expressamente dizia que a música não poderia tirar o primeiro lugar". A vencedora passou a ser então "Sabiá", de chico Buarque e Tom Jobim, que na apresentação levou uma vaia estrondosa de um Maracanazinho lotado.
Foi na calada da noite que Vandré partiu. Perambulou pelo Paraguai, França, Chile, Argélia, Alemanha e voltou somente em 1973. No entanto, segundo o jornalista Vitor Nuzzi, que lançou a biografia não autorizada do músico "Uma Canção Interrompida", após anos de pesquisa, é quem nos diz: "De todos os compositores exilados, Vandré foi o único que não voltou. Seu corpo sim, mas seu espírito continua lá fora". O jornalista diz mais: "Vandré nunca foi torturado. É uma lenda. A violência que ele sofreu foi psicológica".
E a partir daí virou mito. Muitas perguntas estão sem respostas até hoje. Segundo alguns ao voltar Vandré se comprometeu com os militares a não retomar sua carreira. Louco, torturado pela ditadura, perseguido... Enfim, tudo o que se podia dizer a seu respeito foi dito. Em verdade ele retomou a carreira de funcionário público, já que a advocacia nunca exerceu, e as aparições pelas ruas de São Paulo à noite, solitário, com os cabelos em desalinho, mal vestido, virou lenda.

Mas de uma verdade não se deve fugir. Foi ele quem liderou uma legião de compositores que sugiriram naqueles primeiros anos da década de 60, cheios de sonhos, de ambições, de desbundes, esperançosos de mudanças sociais e políticas, contando a história de gente simples, trabalhadora, humilde. Vandré esteve sempre à frente, foi parâmetro para muitos que hoje colocam em seus currículos a palavra "exilado", como se isto lhes auferissem uma maior credencial de veracidade, ou de importância. Muitos lhes viraram a cara, não se dignaram a lhe receber ou lhe estender a mão. Seu nome assustava a classe. E como disse o pesquisador e colecionador de discos pernambucano Abílio Neto a 3 anos atrás: "Vandré se transformou num morto-vivo aos 38 anos de idade. Como tem 77, tem mais anos como morto insepulto do que vivo".
Nas poucos entrevistas que concedeu, uma de 77 disse o seguinte ao ser perguntado porque não cantava mais: "Não tenho mais motivações nem razões para isso. O Brasil que conheci a 40 anos atrás não é o mesmo de hoje, onde predomina uma cultura massificada".
No disco em questão "Das terras... pode -se ainda acrescentar que ele é sombrio, quase sussurrado, o lamento pungente de um homem ceifado de sua criatividade, em tonalidades menores, realçando a dor e o sofrimento que brota da alma de alguém que perdeu seu chão e sua motivação para se expressar.
Na mesma entrevista de 1977, ao ser perguntado que verbete gostaria de ser lembrado, respondeu: "criminoso".
O que fica de Vandré são as mais belas canções que este país já conheceu como "Disparada", "Fica Mal com Deus", "Aruanda", "Quem Quiser Encontrar o Amor", "O meninos das Laranjas" e tantas outras.

DISCOGRAFIA:
1) Geraldo Vandré, 1964
2) Hora de Lutar, 1965
3) 5 Anos de Canção, 1966
4) Canto Geral, 1968
6) Geraldo Vandré no Chile, 1969
7) Das Terras de Benvirá, 1970.
Fez a trilha sonora do filme "A Hora e a Vez de Augsto Matraca", de 1965.
DAS TERRAS DE BENVIRÁ
Lado A
1) Na Terra Como No Céu
2) Das Terras de Benvirá
3) Vem, Vem
4) Canção Primeira
5) De América
Lado B
1) Sarabanda (Tema Livre)
2) Maria Memória Da Minha Canção
3) Bandeira Branca
Gravado em Novembro de 1970 em Paris e lançado em 1973
Marcelo Melo - Viola e Guitarra
Kiko de Carinho - Harmônica
Murilo Alencar - Guitarra
Direçãoi e Produção de Geraldo Vandré
WHAT’S GOIN ON OU O MELHOR DA SOUL MUSIC

Foi em 1° de junho 1971 que Marvin Pentz Gay Jr, nascido na capital americana Washington em 1939, entrou no estúdio Sound Factory, em West Hollywood e gravou aquela que seria a sua canção mais conhecida e executada dentro do cenário mundial. What’s Going On, junto com “ Good is Love” e “Sad Tomorrows”, foi o início de um embate entre o cantor e os executivos da prestigiada Motown, inclusive o presidente da mesma Berry Gordy, seu cunhado, que achava que a mesma não tinha apelo comercial. Gay, que mais tarde mudou a ortografia de seu nome para Gaye, para não ser identificado como o movimento gay ainda incipiente naquela época, bateu pé e ameaçou não gravar mais nenhuma música se o chefão não voltasse atrás.
O disco foi considerado o primeiro trabalho conceitual dentro do estilo R&B o equivalente ao que Sargent Pepper foi para os Beatles. Ele foi um marco dentro da discografia americana por mostrar pela primeira vez as preocupações de ordem sociais, o estilo de vida da sociedade da época e até com preocupações de desrespeito à natureza. Todas as faixas tem ligação e narra o ponto de vista de um ex-combatente do Vietnã que ao voltar para casa vê um cenário de pobreza, injustiça, sofrimento e ódio.
Nesse trabalho Marvin requisitou aqueles músicos com quem mais se identificava, se encerrou por noites seguidas no estúdio, e arranjou a maioria das canções, dentro de um estilo despojado, de som direto, sem muitas nuances de mixagem. Era quase que um show ao vivo e foi esse despojamento que deu a ao disco uma cara inovadora e arrojada e que mostrou um novo caminho a uma geração inteira de cantores de soul music.
Primeiramente foi lançado o single “What’s...” que fez enorme sucesso e fez com que a gravadora pedisse ao músico que completasse seu trabalho, que foi feito no ano seguinte.
Segundo Gaye, a inspiração para a música veio quando o cantor da banda Four Tops, Ronald Benson lhe narrou que ao chegar em turnê na cidade de Berkeley, na Califórnia, testemunharam a polícia descer o cacete num grupo de manifestantes locais que protestavam contra a guerra do Vietnã, contra o conflito árabe-israelense e contra a ocupação de um espaço livre pelas forças policiais e que ficou conhecida como Quinta-feira sangrenta. Ao ver aquilo Benson comentou com um amigo: What’s Going on” (o que está acontecendo aqui?). Depois ao comentar o fato com o compositor Al Cleveland este fez um esboço da canção, que posteriormente foi parar nas mãos de Gaye que modificou a letra e a melodia e lhe deu uma versão definitiva.
Este foi o maior disco de soul music produzido nos Estados Unidos e que elevou Marvin como um dos seis mais importantes cantores daquele país. No entanto, o destino cruel e atroz pregou uma peça no infeliz músico. Mais tarde, atormentado por problemas familiares, dívidas, o vício em drogas pesadas, casamento desfeito com briga na justiça por direitos autorais e principalmente desavenças com um pai autoritário e reacionário, Marvin foi assassinado pelo próprio com um tiro de revólver, terminando assim uma carreira que enquanto durou, foi brilhante.
TÓPICOS:
As canções do álbum são:
Lado A:
1) What’s Goin On
2) What’s Happening Brother
3) Flyin High
4) Save the Children
5) Good is Love
6) Mercy, Mercy Me
Lado B:
1) Right On
2) Wholy Holy
3) Inner City Blues
A TRILHA SONORA DE EASY RIDER

Easy Rider, Music from the Soundtrack, de 1969, é a trilha certa para o filme dirigido por Dennis Hooper. Um não vive sem o outro. É um simbiose perfeita, um casamento que deu certo entre canções e cenas, quase todas de estrada.
Muitas das músicas foram escolhida pelo editor Donn Cambern, que na montagem do filme procurava aquelas canções que melhor encaixariam na trama, já que o diretor não tava muito afim dessa atribuição, já esgotado e de saco cheia da produção que o deixou completamente esgotado.
Donn então ficou livre para suas pesquisas, já que era dono de um belo acervo de discos. Também entrou em contato com os produtores das bandas que naquela época estavam lançando seus trabalhos no mercado, e que custou um bom dinheiro para usa-los na trilha.
Uma das cenas iniciais do filme com Fonda e Hooper pegando a estrada com suas motocas envenenadas ao som de Born to Be Wild do Steppenwolf ficou gravada na memória dos marmanjos até hoje como uma das mais memoráveis do cinema, alavancando a música a uma vendagem absurda para a época, sendo até hoje um ícone entre os clássicos do rock.
Fecha o disco Roger MacGuinn cantando Ballad of easy Rider, escrita por Bob Dylan, que foi convidado a participar e não quis, entregando a música para Roger, cantor do The Byrds. Ela aparece durante os créditos finais com as motos pegando fogo e os personagens mortos na beira da estrada.
Participaram do disco os seguintes grupos:
Steppenwolf com The Pusher e Born to be Wild
The Byrds com Wasn’t Born to be Follow
The Holly Modal Rounders com If You Want to be a Bird
Fraternity of man com Don’t Bogart Me
The Jimi Hendrix Experience com If Six Was Nine
Roger MacGuinn com It’s Alright Ma e Ballad of Easy Rider, ambas de Dylan.
A Música The Weight foi cantada na película pelo The Band, mas por problemas contratuais no disco a gravação é do Smit.
Enfim, se ta afim de ouvir o que o pessoal tocava lá pelo final de 69, esse é disco é um bom caminho.
LIKE A ROLLING STONE, UMA CANÇÃO QUE MUDOU A FORMA DE CANTAR

A faixa original, por direitos autorais, não pode ser ouvida, pelo menos nas mídias sociais e então foi colocada a versão feita pelos Rolling Stones
Ouça a música:www.youtube.com/watch?v=aRYokc3VBC4
Uma batida seca na caixa entrecortada com o bumbo em semicolcheia, na cabeça do tempo forte de um acorde de Do com guitarra, baixo, órgão e bateria por 4 compassos prenunciam a entrada de Like a Rolling Stone, aquela que será a canção que mudará toda a história musical para Bob Dylan. A primeira estrofe que diz:
“houve uma época que você se vestia tão bem,
Você atirava centavos pros mendigos
No seu auge, não é?”
Tudo isso numa progressão de Do, Re menor, Mi menor Fa e Sol, (básico)
“e as pessoas diziam tome cuidado boneca
Você está destinada a cair”
Deixou a pessoal da época, 1965 completamente embasbacado. Nunca haviam escutado nada parecido. Nada comparado a temática do rock, surgido 10 anos antes e que falava em carros, garotas, festas, bebidas, amores passageiros. Esta contava a história de uma garota (Miss Lonely) em sua decadência moral e afetiva que perde seus valores e bens e que escancara sua vida depressiva. Ah isso nunca havia acontecido, pelo menos até agora.
Esta é a primeira faixa do álbum “Highway 61 Revisited”, lançado no final daquele ano e que chegou a terceira posição em vendas nos estados unidos e em quarto lugar no Reino Unido. E pra quem gosta de gráficos tem mais. Foi classificado pela revista Rolling Stone o quarto melhor álbum entre 500 e primeiro lugar entre as 500 melhores canções de todos os tempos. É pouco ou quer mais!!!!
Em realidade a canção não mudou apenas a cabeça das pessoas mas também foi um divisor de águas na carreira de Dylan, até ali rotulado como um cantor folk de protesto, respaldado por 5 albuns anteriores, angustiado pelo rótulo que sempre detestou: “eu canto canções apenas” dizia. Se bem que no seu álbum anterior do início do ano “Bringing It All Back Home” já se ouvia o som de guitarras e teclados, mas sempre como complemento. Agora não, agora ao som mostrava uma nova atitude, uma nova roupagem, uma intensidade bluseira jamais mostrada antes. Era um caleidoscópio vertendo um som poderoso, inteiro e desafiador. Isso certamente enfureceu o pessoal mais purista, aqueles seguidores puxa-sacos, bajuladores de ocasião e enclausurados em guetos musicais. Tanto que ao se apresentar com a nova postura em alguns shows, inclusive em Newport, o templo do folk, e depois numa tour na Inglaterra o bardo nascido na cidade de Dululath, no Missisipi, aturou vaias, palavrões e gritos de Judas.
Nada que abalasse. Aliás, o que Dylan foi, é e sempre será um autêntico camaleão. Sempre fugiu da mesmice. Sempre se reinventou, sempre se reescreveu e surpreendeu quando o esperavam de um jeito e ele aparecia de outro. Na realidade o cara nunca fez questão de mostrar seu passado, suas raízes, seus laços nem seu nome verdadeiro. Nunca foi moldado por agente ou por gravadores, produtor ou mecenas. Ele sempre fez o que quis, cantou como quis e caiu fora quando não se sentia bem. Se você procurar várias gravações da própria música em questão, verá que ele nunca mais conseguiu cantá-la como gravou. Sempre mexeu em suas canções, sempre mudou o andamento, a levada, a harmonia, adiantou ou retardou refrões, fazendo de seus shows verdadeiras jam sessions, e nunca se colocando a frente de seus músicos mas sempre ao lado, como se fosse um integrante da banda.
Quando da gravação da música diz Al Kooper: “eles procuravam um som mas ele não vinha”. O produtor Tom Wilson deslocou Paul Griffin do órgão Hammond para o piano, buscando uma sensação mais vibrante. “Fui até Wilson e lhe disse – hei eu tenho uma parte realmente boa para o órgão ao que ele respondeu: - cara você não toca órgão, você é guitarrista. Enquanto isso ele foi ao telefone e eu assumi. E aí, deu no que deu”, relembra Al, que havia ido ao estúdio apenas como convidado.
Quando o compacto foi lançado naquele ano, as gravadoras receberam a faixa de seis minutos dividas em dois lados pois era muito extensa. Mas logo que ela começou a rodar o pessoal começou a telefonar pedindo para ouvir inteira, o que fez a gravadora prensar outras cópias.
Eu seu livro Like a Rolling Stone de 2005, Greyl Marcus um dos maiores estudiosos de Bob Dylan penetra nesse universo que envolveu toda a gravação e dissecando o aspecto social e político da época e suas antecedências e conseqüências. É ele quem cita o depoimento de uma professora primaria ao ouvir a canção pela primeira vez quando estava em Hastings, na Inglaterra, ao ser entrevistada pela BBC sobre “Like a Rolling Stone”, produzido para a série “Soul Music”. Diz Paula Radice: “Como eu descobri Dylan tarde, nos anos 80, a música chegou pra mim fresca e totalmente nova. Eu estava sentada num pub, em Durham, em 1984, e eu acho que eles nem serviam mulheres. Haviam mineiros, e outras pessoas e de repente o jukebox começou a tocar a música. Eu não sabia o que era, talvez a única pessoa ali que não a reconheceu. Mas tudo parou. A conversa parou e todos começaram a cantar. E eu pensei que diabos ta acontecendo, eu nunca ouvi essa canção antes, como é que todos a conhecem. Não só a conheciam, eles obviamente a amavam, e a saboreavam , e atiravam a cabeça para trás cantando o refrão, “how does it feel”, numa espécie de uivo. Olhando para trás ela parece realmente emblemática do que estava acontecendo em Durham na época. Quando a música terminou, como se nada tivesse acontecido, todo mundo recomeçou a beber e a falar”.
- O disco foi gravado pela Columbia Recordes em junho de 65 com os seguintes músicos:
- Al kooper, órgão; Paul Griffin, piano; Bruce Langhorne, pandeiro; Michael Blomfield, guitarra; Macho Jr, baixo, Bobby Gregg, bateria;. O produtor inicialmente foi Tom Wilson e depois Bob Johnston terminou o trabalho.
- As músicas, todas de autoria de Dylan são: Like a Rolling Stone; Tombstone Blues; It Takes a lot to laught it takes a train to cry; From a Buick 6; Ballad of a thin man; Queen Jane Approximately; Highway 61 revisited, Just Like tom Thumg’s blues e Desolation Row.
- Dylan disse que colocou o nome da rota 61 devido a proximidade que sentia com a mesma pois ela começa mais ou menos no lugar onde nasceu (Duluth, Mississipi) e ia até perto do delta do rio Mississipi e passava perto de locais de nascimento de músicos famosos como Elvis Presley, Muddy Waters. Foi a rota onde a cantora Bessie Smith morreu devido a um acidente.
